segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A febre que mata rinocerontes

ATENÇÃO:  ESTE TEXTO CONTÉM IMAGENS FORTES DE MUTILAÇÃO ANIMAL
Você sabia que alguém que sente uma simples febre ou dor de cabeça na China, no Vietnã ou na Coreia pode ser responsável pela matança de milhares de rinocerontes africanos? É a mais pura e dura realidade. A crença em muitos países asiáticos de que o chifre desses animais tem o poder de cura está movimentando altas somas em dinheiro no mercado clandestino.

Os curandeiros desses países vendem a falsa ideia de que remédios feitos à base do material pode curar dezenas de doenças. A divulgação dessa crença teve início há décadas. Ainda nos anos70, mercenários asiáticos se armaram com fuzis kalashnikovs e se embrenharam na savana do Zaire, exterminando quase que 100% das espécies.
O mesmo ocorreu em Camarões, Chade, Sudão, Somália e Etiópia. O problema atingiu todo o continente. Em alguns países, como no Zimbabwe, autoridades capturaram os animais e arrancaram seus chifres, para torná-los sem atrativos aos caçadores.
Só neste ano, mais de 150 espécies foram mortas na África do Sul. É a maior média já registrada nos últimos 50 anos. Notícia mais que preocupante no país que tem como uma das principais atividades econômicas o turismo ambiental. O país dos Safáris corre o risco de, a médio prazo, ver diminuir os dez milhões de turistas anuais que desembarcam na África do Sul para conhecer a fauna local.
Um rinoceronte adulto chega a pesar duas toneladas e meia. E cada vez que um deles morre, deixa a situação dos filhotes seriamente comprometida porque os bebês são muito dependentes dos pais. Ecologistas estimam que há vinte anos existiam no continente africano entre 60.000 e 70.000 espécies. Hoje são apenas cerca de 3.000.

Para se ter uma noção do que motiva os caçadores, basta saber que em Chengdu, capital da província de Sichuan, na China, um comerciante paga o equivalente a R$ 7 mil quilo de chifre de rinocerontes. É isso mesmo, eu escrevi “sete mil reais”. Tanta grana deixou eufóricos contrabandistas e caçadores da África do Sul, Zimbabwe e Moçambique.
Não precisa ser expert para entender a matança dos animais. Imagine o faturamento dos comerciantes e contrabandistas se apenas uma pequena parte da população de mais de 1 bilhão e 200 milhões de chineses recorrerem aos “remédios” sempre que tiverem uma febrezinha.
Os bandidos são experientes e dispõem de equipamentos modernos. Durante o dia eles sobrevoam parques nacionais e reservas privadas de helicóptero. À noite, munidos de binóculos e espingardas com miras de visão noturna, os caçadores retornam ao local onde as manadas foram vistas mais cedo e dão início à execução.
O resultado chocante pode ser visto nas fotos divulgadas pela Rhino & Lion Reserve, a 50 km de Johanesburgo. Ed Hern, proprietário do local, faz um apelo: “precisamos lançar uma campanha internacional na mídia e desmentir o poder medicinal dos chifres de rinocerontes”.

O governo informou que no ano passado investiu mais de um  milhão de Reais no reforço da segurança de Parques Nacionais, como o Krugger Park, por exemplo. Mas pelo número de mortes divulgado até agora, é fácil perceber que os esforços estão aquém do necessário. Ambientalistas cobram do governo do presidente Jacob Zuma que trate o assunto por meios diplomáticos.
Só que especialistas nas  relações diplomáticas entre ambas as nações não acreditam nesta hipótese. Dizem que a África do Sul tem uma estranha relação de submissão à China. No ano passado, o pessoal do Union Buildings, sede do governo, em Pretória, chegou a proibir a visita do Dalai Lama à África do Sul, durante um encontro internacional. Tudo para não aborrecer os burocratas de Pequim.

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